Na escuridão do palco, onde não tinha mais ninguém, a luz ao centro evidenciava a expectativa e espera da lua. Estava quase na hora dela partir, pois o sol já tomaria seu turno. Esperar nunca é bom, mas talvez valha a pena quando o esperado é algo magnífico. Enfim, as madeiras rangeram e passos se ouviram. Era a solista. Era ela, com um longo vestido vermelho. Foi ao meio da luz para que a pudessem ver melhor, mesmo que somente a lua a estaria vendo.
Ver parte um aqui.
Do lado de fora, agora não se escutava mais a harmonia de antes, mas apenas o agudo do violino. A solista, de fato, solava. Sem plateia presente, mas presente à lua, ao céu. Todos os ensaios noturnos dela nunca foram para o concerto daquela noite, pra aquela gente desconhecida. Todas as noites foram para a lua, para aquela bola branca que sempre a estava olhando. Ela estava tocando para o céu, pois lá tinha alguém escutando e apreciando aquelas notas.
E assim foi, ela, que não tinha nome, que não era ninguém, que não pôde entrar no teatro por não ter uma casa, mas que sonhava em tocar um dia na orquestra, em solar naquele meio palco, que nada mais era que um espaço vazio, ela que sempre sonhou, pôde, naquele fim de noite, tocar a última nota.
Quando amanheceu, no teatro se viu muitas viaturas da polícia e uma ambulância. Dois paramédicos saíram de lá com um corpo de uma menina. Aparentava ser uma moradora de rua. Ninguém soube dizer quem ela era nem o que estava fazendo no teatro fechado. Em um dos seus bolsos, foi encontrada uma partitura.
Imagem: arquivo pessoal. |
Fim.