dezembro 2013 | Blog do Joanir -->

O cara da foto não sou eu

terça-feira, 24 de dezembro de 2013
Pra onde estava indo? Era um dia quente e o sol  estava bem no meio do céu. Era prazeroso dirigir por aquela estrada, limpa e lisa, parecia que o carro voava, mas na verdade ele corria como qualquer outro. Mais a frente no caminho, havia um congestionamento, uma fila não muito grande, mas quando se está com pressa, mesmo que a pressa seja para chegar a lugar nenhum, o tempo de espera se multiplica. Tinha alguns policiais revistando os carros.
Enfim, chegou minha vez.
- Identidade, senhor.
Eu era um senhor. Completar a graduação tivera me ajudado nisso.
- Mas este da foto não é você.
Pronto, eu já não era senhor, era um desconhecido para o fardado.
- Está escrito meu nome aí.
- Eu sei, mas você não é o da foto.
- Se não sou eu, quem é?
- Não sei, mas vamos descobrir.
Me levaram pra cidade de perto. Pequena, os moradores me olhavam do parque e das janelas. Eu estava calmo, o ambiente era calmo. Me disseram para esperar na salinha. E de novo o tempo se multiplicou. Levantei-me e fui para fora. Sentei no banquinho da praça. Uma moça curiosa se aproximou. Era baixinha, do jeito que eu gosto, sentou-se perto de mim e me perguntou:
- Quem é você?
- Não sei, vão descobrir ainda.
- Vão descobrir?
- É.
Sem mais perguntas. Apenas os pássaros falavam. Eu não sabia que pássaros falavam, mas nessa cidade, pude perceber isso. A moça não me perguntou mais. Ficou sentada ao meu lado, como se esperasse algo. Sei lá se me esperava. Tinha cabelos pretos não muito longos, nem muito curtos, que balançavam com o vento. Cheirosos, o vento me fazia senti-los. Além dos pássaros, uma música romântica tocava no alto-falante pendurado no poste. Bonita.
O policial veio ao meu encontro e disse que não descobriu e que eu poderia seguir viagem.
- Você pode ficar aqui. - Disse a moça.
- Eu não posso, tenho que ir.
Levantei-me e parti. O sol já se escondia de mim. Talvez estivesse com vergonha também. A lua surgia do outro lado, iluminando a estrada por onde eu dirigia. Olhei meu documento de identificação e realmente aquele cara da foto não era eu.
Imagem: http://www.obardobebado.com
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Extensivo de colação

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Chamaram de ensaio, mas pra mim pareceu mais uma preparação para um ritual. De certa forma, é um ritual, uma cerimônia, quase uma missa. Participei ontem do ensaio de colação da minha turma e não sabia que se tinha que fazer tantas coisas antes de receber o canudo.
O ritual começa com a entrada: você vestido a caráter, com a mão esquerda pra trás e a direita segurando o capelo. Será que não pensaram nos canhotos? Acho que não. Terá um juramento e ao final dele, deveremos dizer "assim prometo". Sei lá, acho que um "amém" cairia bem.
Mas até aí tudo bem. Sempre foi assim, quem sou eu para questionar? O problema, para mim, está na hora em que pegaremos o canudo. Sei lá se entendi, acho que devemos pegar com a mão direita e abraçar com a mão esquerda, depois dar três passos para direita, um pra trás, um salto mortal triplo, dois ou um, e depois virar do azul pro branco. Entendeu? Imagina eu?!
Imagem: http://www.tocadacotia.com
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Em Jaimploonisgtons

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Hoje me aconteceu uma coisa impressionante. Se eu contar, acho que ninguém vai acreditar. Eu estava andando nas ruas do centro da cidade, chutando pedras pelo caminho, bem daquelas que atrapalharam Carlos Drummond de Andrade quando ele ia comprar leite na padaria. Eu me encontrava tão distraído e pensativo que chutei a todas, sem me importar com a dor que isso poderia me causar.
As pessoas corriam, a vida corria, já o tempo, este voava. Mas eu, não, eu era um ponto quase imóvel no meio do calçadão, meio pequeno para ser visto. Porém, fui visto e vi, podem acreditar. Uma moça também viu e me perguntou se eu queria viajar, ir para um lugar bem melhor. Eu não a conhecia, mas disse que sim, que qualquer um quereria ir pra qualquer outro lugar.
Então, uma nave pousou bem ao lado da catedral. Entramos nela, sentamos e partimos. O destino era desconhecido para mim, um lugar chamado Jaimploonisgtons. Mas que lugar era esse? O GPS do meu celular não soube me responder.
- Deixa de perguntas, você disse que queria ir pra qualquer lugar.
Ela tinha razão. E chegamos a Jaiml, Jaimplion, ah, sei lá como se escreve isso. Me surpreendi com o lugar. Tudo era tão irreal, mas tinha realidade nisto. Não existiam fronteiras, o tempo não era apressado nem lento. As pessoas não corriam, andavam. Não gritavam, cantavam. Era o que eu queria, tranquilidade e despreocupação. Ficamos lá o tempo certo, até vi o Andrade na sua casa, toda construída de pedras.
Voltei agora pouco. Andrade me disse algumas coisas antes de eu partir. Não lembro as palavras todas, mas acho que ele quis dizer que não há barreiras entre a realidade e o sonho. Uma vida pode ser tão boa, pode ser um sonho que se sonha acordado; e um sonho pode ser uma vida, ou representação dela.
Imagem: http://alebrito.spaceblog.com.br
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Contratado

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Como vocês sabem (ou não), tenho um canal no Youtube. Esse aqui: Joanir Produções. Produzo alguns vídeos de cousas  que acontecem na cidade, como apresentações de teatro, e na universidade, como algumas aulas e eventos do curso. Além disso, às vezes toco minha flauta-doce, violão e etc. Depois desta propaganda, acessa lá.
Mas o que vim falar neste post não é essa propaganda. Ontem, estava precisando de um ator para contracenar comigo num vídeo. Depois de um longo processo de seleção, encontrei um que se adequava mais ao formato do programa que eu estava pretendendo fazer. Ele também tinha um currículo interessante, já tendo encenado até no Japão.
Até aí tudo bem, mas na hora da gravação, percebi que ele é muito metido, e intrometido, pois roubou a cena na minha hora de falar. Eu fiquei revoltado e saí da frente das câmeras (só tinha uma, mas vamos falar no plural pra parecer que eu estava numa grande produtora e tal).
Nem disse o nome do cara. Se chama Ito Kayaume Tzoto. Do Japão mesmo. Não sei se faremos mais vídeos juntos. Se quiser conferir, veja o vídeo. Eu tenho razão ou não?

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Não era uma vez

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Nem tantas outras. Para ele nunca dava certo. Talvez tenha nascido quando os planetas estavam desalinhados cruzando as fronteiras do Sol próximo à galáxia de Órion. De qualquer forma, o que quero dizer é que ele tentou mais uma vez.
Não era uma vez, mas talvez dessa vez fosse. Algo da fantasia tem que ser real. A vida não é só o que vivemos, mas o que sonhamos também. Isso era o que ele estava pensando. Ela apareceu:
- Gostei de você! - Ela disse.
- Como? - Ele retrucou espantado.
- Vamos criar o nosso conto. Eu serei a princesa presa no castelo e você será meu príncipe que virá e me salvará do dragão guardião da fortaleza. - Ela falou com os olhos radiantes.
Ele topou. Era o que ele queria: viver um conto com sua amada. Mas, como em todos os contos, as estórias acabam com um final feliz e o livro se fecha, os pensamentos acabam e a fantasia é guardada na estante.
Imagem: http://entreoamoreomartirio.blogspot.com.br
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Ecos

domingo, 1 de dezembro de 2013
Dia desses eu estava me questionando sobre como no cinema e em novelas são representadas as lembranças. Quando um personagem põe-se a pensar, entra uma cena com coloração ou efeito diferente para destacar que a imagem se trata de um pensamento. É também colocado um eco na voz dos personagens que falam. Eu me questionava sobre esse eco: não pensamos com eco; quando penso, não me ouço assim: EU Eu eu SOU SOu Sou... Porém minhas questões foram respondidas quando eu pensei mais (e sem eco). Tanto a literatura, como o audiovisual (e outras linguagens) podem e jogam com representações do real, e não o real em si. Na literatura, sabemos que um personagem está pensando porque o narrador nos diz isso. Já no audiovisual, a câmera e os sons é que fazem esse papel.
- Mas por que o eco? - Eu me perguntava.
Imagem: http://www.downloadswallpapers.com

A resposta veio assim: a lembrança, no real, é um eco de algo vivido. Lembramos das situações que ocorreram e presenciamos. Desta forma, sua representação no audiovisual não é apenas um recurso desta linguagem, mas representa o próprio pensamento como eco de um passado.
Interessante isso, não é? Às vezes, quando lembro de algo que aconteceu comigo a bastante tempo, não ouço nada reverberando, mas consigo ver imagens estáticas, aparecendo quadro-a-quadro. Não vejo tudo, pois muita coisa se perde com o tempo, mas consigo sentir algumas sensações e até lembrar de alguns cheiros, coisas de infância, misturando coisas reais com fantasias. Percebo então que até o meu pensamento é uma representação, um eco de minha vida.