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O náufrago

quarta-feira, 26 de março de 2014
Foi assim que tudo aconteceu, segundo alguns. Era um homem de negócios e se preparava pra uma viagem às Américas, ao novo mundo. Se despediu de sua noiva, a olhou profundamente em seus olhos e pressentiu que estava deixando parte de seu mundo sozinho. Ficaria longe dela longos três meses, pareceria uma eternidade, mas era necessário. Partiu num navio na classe média. Ouvira falar de um outro grande navio que também partiria, mas este dia estaria longe ainda. A viagem não foi as das melhores, o mar estava muito agitado, o navio parecia que ia afundar. Ele gostava de ir à proa para olhar pro além, pra linha que separava a água do céu. Nesses momentos avistava seu mundo, sua noiva, aqueles olhos não lhe saíam da mente.

Imagem:  http://thebridalfairy.co.uk

Na noite seguinte, despertou com o barulho, tinha água na sua cama, a gritaria era intensa, olhou pela pequena janela do navio e viu que estavam no meio de uma tempestade. Correu para pegar o colete salva-vidas e reuniu-se no salão junto com os outros passageiros. Estavam todos com muito medo, a tripulação pediu para que eles se acalmassem, pois eram normais tempestades assim no mar. Mas esta não seria mais uma tempestade que este navio enfrentara, seria a última. Numa gigantesca onda, as furiosas águas engoliram a embarcação, fazendo-a virar de lado. Muitos morreram, mas ele se salvou, pois neste momento que a água entrou, jogou-o para fora do navio e ele conseguiu se segurar num pedaço de madeira. O mar logo se acalmou, o navio desapareceu, deixando apenas alguns destroços sobre a água.

Ele se segurou naquela madeira, pensava em muita coisa, principalmente na sua noiva. Quando amanheceu, ele se deu conta do tamanho do problema em que estava. Olhou para todos os lados e nada conseguia ver além de água. Passou três dias boiando, tomando apenas aquela água salgada que o mar lhe oferecia. Viu uma ilha por perto, nadou até ela, mas era uma visão.

Já não acreditando que viveria, se entregou ao acaso, pensou novamente na sua noiva, viu seu mundo desabar. Se sentiu sozinho pela primeira vez na vida. Se sentiu fora de seu mundo, pois seu mundo estava longe e sozinha. Quem cuidaria dela? Ele pensava, saía uma lágrima salgada de seus olhos, estas seriam as últimas. Antes de fechar seus olhos pela última vez, olhou para os lados e avistou ao longe algo que parecia uma grande navio. Pensando que era outra miragem, fechou seus olhos. Desistiu, pois percebeu que tentar novamente seria inútil.

Sonhou então com sua noiva. Achou que seu cérebro estava encontrando um refúgio, um consolo para seus últimos momentos. No sonho, ela estava tão linda, com o vestido branco. Ele, no altar, a via entrar pela igreja, a música tocava entoada pela orquestra de cordas. A noiva, sorrindo, este era o dia mais feliz da vida dela, entra, olha para todos e encontra o seu noivo. Se viram para o pastor. Este pergunta a ela se ela amaria seu esposo para todo o sempre, até que a morte os separasse, ela diz que sim. Quando o pastor lhe pergunta a mesma coisa, ele não consegue dizer nada, ouve um barulho dentro de sua cabeça, começa a gritar de dor e acorda.

Estava num navio, rodeado de gente, lhe perguntavam se estava bem, ele mal conseguia ver e respirar. Lhe trouxeram água e alimento. Quando recuperou suas forças, pôde responder as perguntas das pessoas, mas antes lhes perguntou:

- Em que navio estamos?
- Homem de sorte, estamos no Titanic!