Cinquenta anos depois, as águas me escondem algo que minha memória nega ter vivido. Na areia, marcas de passos que ainda não dei, talvez não sejam meus, mas de alguém próximo a mim. Na beira do mar, só eu e ela, mudos, olhando para o longe, próximos como se temêssemos nos perder um do outro.
O tempo passou rápido, e rápido estávamos nos acabando. Um pedaço de memória surge, trazido por uma onda aos nossos pés, cheios de rugas, firmes na areia. É difícil descrever. Olho nos seus olhos, e apesar de diferentes, vejo a mesma menina de anos atrás, de muitos anos atrás. Estávamos diferentes, já não dávamos risadas um do outro, nem marcávamos planos. Era o fim de algo que mal começara.
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O tempo passou rápido, e rápido estávamos nos acabando. Um pedaço de memória surge, trazido por uma onda aos nossos pés, cheios de rugas, firmes na areia. É difícil descrever. Olho nos seus olhos, e apesar de diferentes, vejo a mesma menina de anos atrás, de muitos anos atrás. Estávamos diferentes, já não dávamos risadas um do outro, nem marcávamos planos. Era o fim de algo que mal começara.
Ela chegou na manhã de hoje, estava sozinha a mais de vinte, já eu, a vida toda. Chegou sem me avisar, bateu à porta, sentou no meu sofá e não disse nada, não quis dizer e eu, não perguntar.
Na memória, trazida pelas águas cansadas de ir e vir, estavam traços cinzas do meu passado. Sem cores, me vejo sozinho num porto, bebendo um vinho. Tentava esquecer qualquer coisa, mas não conseguia. Não naquela época, naquela memória.
Outra onda vem e não me deixa terminar de pensar, me perco novamente em seus olhos, grandes olhos que me engolem, mas não me dizem nada. O sol se vai, mas nós permanecemos até o silêncio final.
- Fala alguma coisa!
- Eu não sei... tentei te esquecer no porto.
- Mas eu não estava lá.
- Você nunca esteve...
- Estou com você agora!
- Não, não está.
No porto, meu copo já está vazio, pego o meu caderno e começo a escrever, queria alguém ali.