Alguma outra vida?
Finalmente, Pedro conseguiu arrumar o equipamento. Eram quase duas da manhã quando ele conseguiu ligar o aparelho e ver que estava funcionando como o esperado. Conectou-o ao notebook e iniciou o programa do mundo virtual. O tempo parou.
O tempo não parou de verdade, mas para Pedro o tempo ficou relativo, o relógio parou de bater, as folhas das árvores não caíram durante aquele instante. Um portal se abriu. Outro, no mundo virtual. Pedro se apressou para passá-lo, mas antes do segundo passo, caiu no chão. O portal entre os dois mundos ficou aberto até a energia armazenada acabar.
O barulho deste experimento foi tão grande, que todos no hotel o ouviram e ficaram apavorados. Alguns, sabendo de onde estava vindo, tentou abrir a porta do quarto, mas não conseguiram. Somente após algumas horas, uma equipe de bombeiros conseguiu entrar no quarto 123 e encontraram Pedro inconsciente. Imediatamente, o levaram para o hospital e constataram que ele estava em coma.
No mundo virtual, Fer não viu o portal, pois ele tinha sido aberto muito longe de onde ela estava. Porém, ela pôde perceber que seu mundo estava mais pesado, como se tivesse mais coisas nele. Por esse motivo, naquela mesma noite, ela resolveu partir, sem rumo, para qualquer lugar.
Não sabia o que encontraria pela frente, mas sabia que se continuasse ali, nada aconteceria. Partiu quando o sol começava a nascer. Para ela, isso significava renascimento. O sol nasce todo dia, mas no final da tarde, ele morre para que a noite seja iluminada por outras estrelas. Tal renascimento exige, de cada um, certo esforço. Ela precisava partir se quisesse renascer.
Ela tinha todo esse conhecimento, mas Pedro nem sabia disso. Ele não a programou assim. Ela adquiriu isso sozinha, lendo livros e vivendo as coisas criadas por Pedro. O ciclo de vida autônoma que Pedro criou nesse mundo fez com que ela se tornasse uma mulher completa. O fato dela ser virtual era apenas uma condição.
Fer chegou a uma praia bem grande. Ela nunca tinha visto antes tanta areia e tanta água. O lugar era lindo, os seus olhos se enchiam de tanta natureza. Ao longe, ela conseguiu ver um brilho, reflexo de algo, então resolveu caminhar até o lugar. A cada passo mais próximo do brilho, ela não conseguia distinguir o que era.
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Não parecia nenhum objeto que ela conhecia. Não era parecido com os animais que ela brincava. Mas, se parecia com ela, tinha forma quase igual, mas estava estático desde que ela o tinha visto.
Quando chegou ao local, percebeu que o brilho era causado pelo relógio de pulso que aquele ser usava. Era um ser igual a ela, mas diferente. Não tinha cabelos longos iguais ao seu, mas tinha pelo por todo o rosto. Ela se aproximou mais do ser e percebeu que ele estava respirando. Tentou levá-lo para a sombra, mas não conseguiu carregá-lo. A maré estava subindo e ele poderia se afogar caso não acordasse antes.
Quando as águas já alcançavam as costas dele, ela conseguiu com ajuda dessas próprias águas, puxá-lo para um lugar seguro. Fer estava completamente confusa, passou horas ao lado dele, olhando-o e tentando saber mais dele. Ela conhecia aquele relógio, mesmo nunca tendo o visto antes. Estava quebrado, os ponteiros, parados, marcavam duas horas. Tentou arrumá-los, mas não conseguiu, pois viu o ser abrindo os olhos.
- Quem é você? - Perguntou Fer, se afastando dele.
- Fer??! - Exclamou Pedro, admirado e confuso. - Deu certo, você está aqui?
- Fer? Você é Fer, como você sabia que eu chegaria aqui? - Também confusa, perguntou ela.
- Você é a Fer e eu consegui te trazer para o meu mundo.
- Como você sabe quem eu sou se nem eu sei muito sobre mim? O que você é?
- Eu sou um homem e você, uma mulher. Eu te conheço há muito tempo e te chamo de Fer.
Os dois conversaram bastante e Pedro contou muita coisa para Fer, porém, não contou que ele a tinha criado. Para ele, nem precisava mais, já que tinha conseguido trazê-la para o mundo real. Assim, ele pensava.
Enquanto isso, no mundo real, Pedro já estava em coma há trinta e dois dias.
Continua...