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A moça idiota

quinta-feira, 9 de junho de 2016
Havia numa certa cidade de nome duplo uma menina idiota. Idiota não por ser idiota de verdade, mas era assim que eu achava que ela era. E, curiosamente, eu gostava dessa idiota.

Na pastelaria

Todos os dias a gente conversava sobre qualquer coisa. Até sobre pneu de caminhão e trem (embora trem não tenha pneu, vai entender).

Nos conhecemos numa feira de pastel aqui da minha cidade. Ela estava comendo pastel de queijo e eu, pastel de frango (segundo o japonês, dono da barraca, o certo era falar flango). Eu na minha mesa, ela na dela. Eu saboreando o meu pastel e ela, o dela... E nisso, entre uma mordida e outra, nossos olhos se encontraram. Os meus estavam vermelhos por causa da gripe. Os dela eram verde cor de esgoto, mas até que eram bonitos.

Ficamos nos olhando então, igual dois retardados. O japonês queria fechar a barraca, mas não deixamos. Repetimos os pastéis. E, cada um na sua mesa, ficou de olho ora no pastel, ora no outro.

Como ninguém se mexia e como o japonês estava com pressa, ele veio me dar um toque:

- Ei, o pastel de flango está bom né? - Disse ele. - Aquela moça tá olhando pla você, vai lá falar com ela e saiam da minha balaca.
- Poxa, tá me expulsando é? - Questionei-o, abismado.
- Sim! - Exclamou o japa.

E assim, motivado pela expulsão internacional, fui lá falar com a moça:

- Oi, Cacilda, sua bochecha está suja! - Exclamei eu (notem como eu sou ótimo em iniciar conversa com uma moça que estou interessado).
- Meu nome não é Cacilda! Você é bonitão hein! - Bladou ela, com um olho em mim e o outro no pastel, enquanto limpava a bochecha.
- Obrigado, sei que sou. - Eu não fui nada modesto. - Vamos namorar e sair daqui?
- Vamos! - Confirmou ela, sorridente, já levantando dali, pra alegria do japonês.
- Tchau plos dois, e não voltem mais! - Gritou o japa pasteleiro, fechando a barraca (acabou queimando 3 lâmpadas por causa da pressa).

A moça e eu saímos dali contentes. Saltitantes. A cada instante, era uma beijo aqui, outro ali, todos com sabor de pastel de frango e queijo junto. Que delícia!

Se passaram quase 6 meses de pura alegria, brigas, reconciliações, pequenos ciúmes até chegarmos onde chegamos.

Ela voltou pra cidade dela, e eu fiquei aqui. Conversando pelo Whats, as coisas foram esfriando. Não tinha mais beijos, não tinham mais pastéis. Ela agora só comia pão de queijo, e eu, coxinha. Viu, mudamos bastante.

Agora, não somos mais namorados, somos apenas dois idiotas distantes, mas ela é mais, bem mais idiota do que eu.

Faz 3 anos que não conversamos, mas sempre que eu como um pastel de frango lá na barraca do japonês, ele chora. Chora porque lembra da minha história com a menina idiota dos olhos verdes da cor de esgoto. Chora também porque lembra do prejuízo das 3 lâmpadas. E quando o pensamento dele chega nessa parte, ele para de chorar e grita pra mim:

- Sai da minha balaca, seu idiota!

É bom que eu saio sem pagar. Ah, aquela idiota.