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Primeiro dia de aula

segunda-feira, 13 de abril de 2015
Pra tudo na vida, sempre existe a primeira vez. Ainda que me falhe e muito a memória, lembro dos meus primeiros dias de aula. O primeiro de todos foi o mais conturbado. Eu não queria ficar naquela sala nem que a Dilma tossisse.
Criança com mochila ao lado de seu reflexo numa superfície plana vertical.



Era meado dos anos 90 lá na Bahia. Talvez fosse a primeira vez que estaria fora de casa longe de alguém da minha família, junto com outros seres estranhos, mas iguais a mim. Crianças diferentes, não eram da minha rua. Nem sequer aquela escola do Centro Paroquial me era familiar.

Minha mãe me deixou lá e mal sabia eu que aquilo se tornaria rotina. Mas quem disse que mesmo não sabendo, aceitaria as novas condições sem fazer minhas observações infantis? Abri o berreiro. Alguém me puxou para cima. "Estou sendo arrebatado" - Pensei. Não, era a professora, agora a única adulta naquela sala, a me carregar. Tentou me acalmar, mas eu não queria calma. Queria sair dali.

Eu não queria, realmente, estar naquele lugar. Estava decidido. A professora, não tendo muita alternativa, me deixou de lado. "Quer sair, então saia". Que maldosa, não é? Eu não tinha pra onde  ir. O mundo ainda era muito grande pra mim. Fiquei fora da sala, no corredor da escola. Vazio. E assim foram os primeiros dias.

Segundo minha mãe conta, passado uns dois dias, eu fui me adentrando na sala. Sentando na primeira cadeira e com o tempo, me enturmando com um ou outro colega.

Lembro de pouca coisa. O que fica em evidência é um filtro de água daqueles de barro. Lembro também daquelas janelas altas e pequenas da sala. Elas me mostravam um verde misterioso que tinha do outro lado. Nunca soube, enquanto estive lá, o que tinha de fato lá. Pra mim, era uma grande floresta. Em determinados horários da tarde, raios solares passavam por ali e visitavam a minha carteira.

Pensei nessas coisas a caminho do meu primeiro dia de aula no Mestrado, esse ano. Estava muito empolgado e lembrando de todas as etapas que passei até chegar aqui. Algumas lembranças me alegram muito. Outras, nem tanto. Mas, viver é colecionar lembranças e fazer delas pontes para alcançar outra etapa.

Imagem: http://www.sare.com.br